
Nos últimos tempos muito se tem falado sobre o possível prejuízo que a ingestão de vitamina D pode ter na ausência da vitamina K, mas as alegações científicas ainda não são muito consistentes.
Como todos sabemos, as vitaminas D e K são vitaminas lipossolúveis, ou seja, solúveis em gordura e geralmente mais abundantes em alimentos gordos, sendo que a sua absorção na corrente sanguínea é reforçada quando são consumidas com gordura.
A vitamina D ou a “vitamina do sol” é produzida pela nossa pele quando exposta à luz solar direta.
Uma das principais funções da vitamina D é promover a absorção de cálcio e manter os seus níveis adequados no sangue, como consequência a sua deficiência está associada a perda de massa óssea.
Assim, a vitamina D:
- Melhora a absorção de cálcio dos alimentos que ingeres (Am J Clin Nutr. 2014 Mar).
- Retira o cálcio dos ossos para executar funções necessárias, quando não consomes cálcio suficiente (Bonekey Rep. 2014 Feb). Por isso, manter os níveis adequados de cálcio no sangue é essencial.
A vitamina K encontra-se em abundância nas folhas verdes, nos fermentados, assim como em alguns alimentos de origem animal, como a gema do ovo e o fígado.
Esta vitamina é necessária para a coagulação do sangue e promove o acúmulo de cálcio nos nossos ossos e dentes.
A grande diferença entre ambas é que enquanto a vitamina D garante os níveis sanguíneos adequados de cálcio no sangue, a vitamina K controla os locais onde esse cálcio é armazenado.
Assim, a vitamina K:
- Promove a calcificação do osso, ativando a osteocalcina, uma proteína que promove a acumulação de cálcio nos ossos e dentes (Haemostasis. 1986).
- Reduz a calcificação dos tecidos moles, ativando a matriz da proteína GLA, o que evita o acúmulo do cálcio nos tecidos moles, como os rins e os vasos sanguíneos (Adv Nutr. 2012 Mar, Z Kardiol. 2001).
Neste momento, poucos são os estudos humanos controlados que têm investigado os efeitos dos suplementos de vitamina K na calcificação dos vasos sanguíneos (Am J Clin Nutr. 2009, Cochrane Database Syst Rev. 2015, Nutrients. 2015).
A Vitamina K existe de várias formas, sendo tradicionalmente dividida em dois grupos:
• Vitamina K1 (filoquinona): A forma mais comum de vitamina K. Encontra-se em plantas, nomeadamente folhas verdes como a couve e o espinafre.
• Vitamina K2 (menaquinona): Forma encontrada principalmente em alimentos de origem animal e fermentados como o natto (fornece cerca de 1300mcg por cada 100g).
A K2 é constituída por uma grande família de compostos, incluindo a menaquinona-4 (MK-4) e a menaquinona-7 (MK-7).
MK-4: Encontrado em alimentos de origem animal como fígado, gordura, gema de ovo e queijo.
MK-7: Formado por fermentação bacteriana e encontrado em alimentos fermentados, como natto, miso e chucrute. Também é produzido pelas bactérias intestinais (nutrition jrnl; Haemostasis. 2000).
As recomendações dietéticas atuais não distinguem entre a vitamina K1 e K2. Para as pessoas com 19 anos ou mais, a ingestão recomendada é de 90 mcg para mulheres e 120 mcg para homens (ncbi.nlm.nih.gov).
Em relação à suplementação, apenas recomendo em casos específicos, nomeadamente em casos de osteoporose, carência de vitamina K ou se a suplementação de vitamina D for superior a 10.000ui por dia, até porque deve-se ter em atenção as interações medicamentosas que a vitamina K, sob a forma de suplemento, tem com determinados medicamentos (Medicine Baltimore, 2016).
Como podemos ver, ambas trabalham em sinergia para garantir um metabolismo eficaz do cálcio.
E agora? Podes tomar um suplemento de Vitamina D sem vitamina K?
Surgiu a preocupação de que uma elevada ingestão de vitamina D pode promover a calcificação de vasos sanguíneos e doenças cardíacas entre aqueles que possuem níveis baixos de vitamina K, preocupação esta que é parcialmente apoiada por algumas evidências.
Mas simplificando…
A toxicidade por vitamina D pode causar calcificação dos vasos sanguíneos, enquanto a vitamina K pode ajudar a impedir que isso aconteça.
Embora estas evidências possam parecer suficientemente favoráveis, ainda há algumas dúvidas, pois apesar de sabermos que doses extremamente elevadas de vitamina D podem levar a perigosos níveis de cálcio e calcificação dos vasos sanguíneos, ainda não é claro se doses mais baixas de vitamina D são igualmente prejudiciais a longo prazo (Nephrol Dial Transplant. 2012; J Clin Endocrinol Metab. 2014).
Não existe nenhuma evidência suficientemente forte que demonstre que quantidades moderadas de vitamina D (inferiores a 10.000ui) são prejudiciais sem que haja uma ingestão adequada de vitamina K sob a forma de suplemento, logo, sim, podemos tomar vitamina D sem a vitamina K desde que o nosso quadro clinico não corresponda a nenhuma das situações referidas no artigo.
No entanto, as pesquisas estão em curso, e em breve poderemos vir a saber mais.
Quão difícil é tomar suplementos vitamínicos vivendo em uma cultura de profissionais de saúde que, sequer, fazem anamnese de entrevista, quanto mais explicar como e porque se tomar tais suplementos. Assim, recorro à internet e encontro você que, zelosa pelo que faz, responde a muitos questionamentos meus. Obrigado! Sucesso!